Sonetos
É denominado soneto o gênero lírico de origem italiana. Seu nome deriva do termo franco-provençal "sonet", diminutivo de "suono" (som, melodia), que por sua vez, tem origem na palavra latina "sonus". Sua criação é geralmente atribuída a Francesco Petrarca, humanista do século XIV, mas hoje já se sabe que tal forma é pelo menos um século mais antiga, já praticada por Giacomo de Lentino (1210 - 1260).
O primeiro ponto importante da estrutura do soneto é a métrica. Cada um dos catorze versos devem possuir a mesma métrica, o que significa que devem apresentar o mesmo número de sílabas poéticas. O soneto é composto geralmente por dez sílabas poéticas em cada verso, mas alguns apresentam versos de doze sílabas poéticas, os chamados dodecassílabos ou alexandrinos.
O próximo ponto na composição do soneto é a ordem em que os versos apresentam rimas, ou o posicionamento das rimas. Para os quartetos, são três as formas principais de posicionamento:
. rimas entrelaçadas ou opostas – abba - o primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro.
. rimas alternadas – abab – o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo rima com o quarto.
. rimas emparelhadas – aabb - o primeiro verso rima com o segundo e o terceiro rima com o quarto.
Finalmente, outro conceito que é tratado dentro de um soneto é a sonoridade, ou seja, o posicionamento das sílabas tônicas (ou fortes) em cada um dos versos. Uma vez combinadas, tais sílabas fazem com que o soneto assuma uma dinâmica melódica, aproximando-se da melodia de uma canção. Sob esse aspecto, o verso decassílabo recebe duas classificações:
. heróico - trata-se do decassílabo com sílabas tônicas nas posições 6 e 10.
. sáfico - é o decassílabo cujas sílabas tônicas se encontram nas posições 4, 8 e 10.
Já o verso dodecassílabo possui como única característica as sílabas tônicas na sexta e na décima segunda sílabas.
Bibliografia: TRANCOSO, Bernardo. Como escrever um soneto.
001 - Segredos
Compartimentos de ébanos velados
Acesso, só quem possui a chave
Abrem os portões enferrujados
Emoções reunidas conclave
Bagagens enclausuradas são fardos
Desfiadas em rosário de esperanças
Emoções, sentimentos roubados
São feridas, cicatrizes confinadas
Inúmeros paradigmas rotulados
Elos rompem e se partem
Tabus invioláveis cultuados
Bagagem lembranças abandonadas
Registros pelo tempo autenticados
Digitais em cada sinete tatuadas.
002 - Dançam labaredas
Sufoca-me o calor que emana ardente
Mistério das curvas sinuosas na dança
Que atraem como imã olhar consciente
Na sintonia do fogo o desejo se lança
Sussurros, suspiros, respiração afoita
Portal do mistério se desvenda
Clareira aberta mágica floresta
Divindade fogo abrasa, se desnuda
Dançam labaredas como serpentes
Enroscadas na energia que aceita
E salivam peles inconsequentes
Dançam labaredas em possessão
Silente e nefasta noite iluminada
Aquecem desejos do coração.
003 - Esculturas
Quimeras em torres intransponíveis
Acima penhascos, lanças, mastros
Vigiados lobos cinzentos, feras mortais
Estátuas, heróis, vasos de alabastros
Ascendem vertigens, o que antevimos
Esplendor trevas, soma batalhas
Se precipitam estilhaços, resíduos
Emoções, por venenos esfaceladas
Esculturas, troféus, elmos, armaduras
Couraças cobrir sensações fugidias
Faróis de luz desvendar escrituras
Pergaminho, tempo metamorfoses
Reflexos luas que inebriam mortais
De sóis, delírios em apoteoses.
004 - Crepúsculo
Sol despede-se sobre riachos
Pássaros tristes recolhem-se quietude
Sem vento, galhos desnudos, silenciosos
Aguardam neve gélida caindo amiúde
Firmamento, tênues nuances rajadas
Refletem matizes memória retalhada
Residem lembranças delicadas
Ciclos vida fragmentada
Mergulho emoções calmamente
Perfeita sintonia com alma
Brota âmago prece suavemente
Sem temer sombras caminho
Tormentas, pesares secretos
Tempo escrito em pergaminho.
005 - Miragens
Torres intransponíveis sonhos presos
Penhascos, lanças, mastros
Vigiados ferozes lobos cinzentos
No interior, gritos, gemidos
Ascendem miragens, tristes pesadelos
Luas sangrentas, duelos, batalhas
Ressurgem fragmentos flagelos
Sentimentos revestidos mortalhas
Símbolos, despojos, elmos, armaduras
Couraças cobrir desesperanças
Candeeiros iluminam escrituras
Tempo, ciclos vorazes, metamorfoses
Reflexos lua inebriam mortais
Em reverencia, altar deuses.
006 - Fantasmas dos Mares
Ventos fustigando indomáveis
Castiga impenetráveis oceanos
Passarelas embarcações vulneráveis
Naufragam mares dos mortos
Flutua longe, sombras, espumas
Espera que mar devolva corpos
Criptas e cavernas profundas
Divindades guardam oceanos
Vestes translúcidas cobrem espectros
Pois no sopro vital lhe pertenceram
Em lamento reclamam invólucros
Abismos insondáveis do mar, mistérios
Dualidade, água é vida, sepulcro
Energias vital naufragam sem critérios.
007 - Imperscrutável
Noites vazias, poeta, pena, esboço
Lá fora, borrasca, flores suicidas
Caem galhos em alvoroço
Ruínas, no passado erguidas
Assobiam ventos, lamentos
Pássaros, silêncio taciturno
Homem se cobre com mantos
Sucumbe mágoas diuturno
Infinito veste de incertezas
Terra veste desesperança
Emoções vestem asperezas
Versos perdem rima e métrica
Fantasmas dançam frenéticos
Memória, lembrança é tétrica.
008 - Itinerantes
Viajantes rodam terra em caravanas
Corpos envergados, faces sonolentas
Respirando ar seco, pupilas dilatadas
Condenados à forca, descaso e desditas
Desventurados, rotas vestes, maltrapilhos
Gritos aterrorizados desafiam trevas
Dor lancinante de infelicidade imersos
Luta inglória, palavras, defesas evasivas
Assim decorre tempo entre ciclos
Cansaço diurno do corpo físico
Fantasmas e espectros noturnos
Esperança encontrar aconchegos
Parcos tapetes ou pelegos
Sombra para descansar ossos.
009 - Espectros
Sino tange longe, lamúrias entrecortadas
Espectros dilacerados, negros prantos
Miseráveis horas lúgubres, soturnas
Perambulam feridos, dores e gemidos
Espectros de Hades, ébano cobertos
Arrastando-se profundezas submundos
Infinitos espíritos curvados sobre ferros
Os mantém cravados em infernos
Ventos ásperos perpassam distantes colinas
Arvoredos inebriados dançam noite de breu
Unem-se ao gemer da Harpia Aelo, borrascas
Encarquilhadas bruxas em risadas
Brotam répteis das profundezas
Sombras deformadas, formas estranhas.
010 - Oferendas
Lautos banquetes reis e rainhas
Servidas baixelas ouro e prata
Vinho taças cravejadas pedrarias
Sons flautins, magia da musicata
Escritas lendas em pergaminhos
Símbolos, orações, divinatórias ocultas
Acima penhascos, lanças, mastros
Sonhos nas torres são sepultas
Vigiados ferozes lobos indefinidos
No interior, vasos alabastros
Ascendem miragens, tristes pesadelos
Luas sangrentas, duelos, batalhas
Ressurgem, fragmentos flagelos
Sentimentos revestidos de mortalhas.
011 - Harpas
Ecoam notas que soluçam
Dedilham segredos avulsos
Almas impregnadas mistérios
Mãos e dedos convulsos
Melodia triste desola
Como vento entre arvoredos
Dor que alma assola
Confina traumas e medos
Sincronia de sentimentos
Percurso de peregrina
Corpo fenece em prantos
Harpas, por Anjos dedilhadas
Homens dedilhando harpas,
Homenagens perpetuadas.
012 - Liberdade
Habita alma impregnada sonhos
Transparentes quimeras emergem
Instantes júbilo, outros tristonhos
Iluminam realizações que se perdem
Transcritos pena e pergaminhos
Sensações, emoções falam de desejos
Versos transbordando sentimentos
Sem disfarces, profanos ou insanos
Palavras ternas em alfarrábios
Carência, pranto brota e aflora
Embarcam liberdade que ancora
Sonetos escritos noites inquietas,
Artesão oferta seu legado poético
Em cada verso são tatuadas palavras.
.
013 - Amantes
Inunda alcova queima ervas aromáticas
Envolvem sutilmente extenuados amantes
Aspiram sensualidade das fragrâncias
Repousam almofadas displicentes
Fumaça espessa envolve recinto
Desenha formas paixão e sedução
Libido atrai impulso, instinto
Prometem sensações prazer e paixão
Labaredas dançam incandescente
Sinuosas, lascivas aprisionando mente
Atrevidas enroscam e acariciam formas
Eros em seu reinado aplaude caça
Amam-se como amigos e amantes
Dentro da finitude instantes.
014 - Ecos da Alma
Repercutem sintonia céu e terra
Uníssono com brisa quatro ventos
Mistério impenetrável, infinitos instantes
Entrelaçados acordes Anjos
Viajam rumo amplidão de estrelas
Portais abrem para liberar sonhos
Suspiros, lamentos e quimeras
Para mortais realizarem desejos
Ecos Alma, no âmago, sentimento
Explode rompe fios da sensibilidade
Lágrimas simbolizam cerceamento
Ecos da Alma posterga paradigmas
Reencarnam terra como microcosmo
Ou em pergaminhos, como poesias.
015 - Rabiscos
Versos brotando, floresce razões
Revestidos percepções e sensações
Mente divaga em todas estações
Adentram sentimentos e emoções
Rabiscar é gerar versos
Formam poemas testemunhos
Sonhos falam saudade e anseios
Desnudam véus suaves caminhos
Lágrimas formam rosário de pérolas
Escorrem e formam rasas poças
Umedecem tênues fios esperanças
Rabiscar amaina tempestade em fúria
Caminho ao acaso percorre a poesia
Energia da paz se faz melodia.
016 - Noite lúgubre
Sobre neve pesados andares
Curvam-se e resvalam noite
Sob sonidos assustadores
Vozes guturais como açoite
Vento gélido castiga tez
Dedilha desnudos galhos
Que lamentam com timidez
Bruscos atalhos dos caminhos
Pássaros se escondem entre asas
Estrelas desfalecem firmamento
Lua minguante se esconde nas névoas
Fantasmas acorrentados algemas
Noite lúgubre se torna abismo
Chuva grossa inundando valas
017 - Ninfas
Rio águas doces e mansas
Abriga ninfas cabelos dourados
Esvoaçando em balé leves brisas
Encanta seus segredos guardados
Vive fantasia de seus castelos
Atapetados flores perfumadas
Espelhos refletem seus encantos
Encontro metas delineadas
Doce olhar amaina tempestades
Melodia transforma a paisagem
Mãos o marulhar das águas tecem
Barqueiros escutam conselhos
Lá vão barcos cruzar os rios
Travessia de paz e sucessos.
018 - Zéfiro
Pradarias multicoloridas
Bosques tons verdejantes
Veredas cobertas de aromas
Recebem Zéfiro, os habitantes
Entre múltiplas flores arroxeadas
Nesta fresca estação, Primavera
Beijos brisa nas tenras folhas
Deus sutil misteriosa atmosfera
Tempo germinar flores e amores
Acompanhar trinar dos pássaros
Renascer e renovar ciclos
Desnuda-se céu cores pálidas
Colorido nas brisas dos ocasos
Veste branco na brisa das auroras.
019 - Destino nos Sonhos
Livre amarras mergulho brisa dos ventos
Desejos alma que afloram incontidos
Permito flutuar verdadeiros sentimentos
Plenitude senda palmilhada de sonhos
Sem temer intempéries, busca desafios
Mergulhar traumas, tabus e enigmas
Portas ocultas guardam mistérios
Perseguir realizações sem lágrimas
Nas águas cristalinas das cascatas
Relva atapetada pétalas macias
Por emoções que foram subtraídas
Precisa encontrar porto esperança
Alma não pode naufragar desventura
Ancorar naus, no mar da lembrança.
020 - Fragmentos
Registros, rascunhos escritos
Letras, maiúsculas ou minúsculas
Nas linhas do tempo em lamentos
Enigmas encarcerados nas almas
Através pena e pergaminhos
É grafada a realidade, autobiografia
Revela fatos, mistérios ocultos
Velhos sentimentos em alquimia
Compartimentos da consciência
Guardados ciclos do tempo
Transcrevo emoção com ousadia
Lembranças que habitam memória
Fragmentos, para não esquecimento
Documentos que geram história.
021 - Sabor a mim
Uma taça borbulhando espumante
Às vezes, sorvo néctar com avidez
Sabor “Vida”, alimento estimulante
Outras vezes, lentamente, em languidez
Uma taça, efervescente de fantasia
Entrelaçada com fluidez da existência
Às vezes, sorvo como fera a energia
Outras vezes, degusto com experiência
Uma taça, os desejos em cortejo
Brinde embriaga com sutil leveza
Bênção cada instante é benfazejo
Uma taça, brinda esperado destino
Embalar no sono, o tecer de quimeras
Nas notas suaves de um violino.
022 - Magia das Palavras
Pena e pergaminho, um dueto
Ferramenta para autenticar poesia
Despertar seu adormecer discreto
Grafias para mostrar sua magia
Inspiração unir quatorze versos
Transformar em soneto com essência
Ou buscar métrica e rima nos reversos
Entregando às palavras a incumbência
Magia das sensações que despertam
Emoções fluem como correnteza
Sentimentos desconcertam
Alquimia, sincronia entre sábios
Poeta, artesão com sensibilidade
Poesia, um alfabeto em alfarrábios.
023 - O Mar
Magia infinita vai e vem das ondas
Que explodem beira cais ou beira-mar
Sem obstáculos, sentinelas em rondas
Responsáveis habitantes a reinar
A maresia exala e flui emoções
No recôndito profundo do ser
Orações com devoção, reflexões
Esperanças alegrias amanhecer
Vagas, imensidão tempestuosas
Arrastando, destruindo tudo caminho
Inquietas, turbulentas, intensas, violentas
Espumas serenas, calmas, pacíficas
Fonte inspiração, melancolia
Abóbada, terra, luz, sombras.
024 - Arte sedução
Sedução, arte requer sensibilidade
Insinuar-se, captar plena confiança
Instigar conquista sutil habilidade
Explorar desejos temperança
Esquecer relógio que marca tempo
Fazer-se notado sem estar presente
Ser pontual, não moldar contratempo
Na retórica ser objetivo e coerente
Sem ousar sexo asselvajado
Esqueça profissão, negócios, sucesso
Em lugar joias ofertar lírio rajado
Com carisma e astúcia, mesma medida
Guerreiros na arena, sedutor e seduzido
Zele para não se extinga a nova vida.
025 - Esquecido
Desconhecido, sem nome e sobrenome
Esquecido, sem rota, destino
Miserável, desnutrido sobrevive fome
Esfolando pés, estranho figurino
Livre no cárcere fétido existência
Companhia vícios infames
Ainda criança, tenra adolescência
Sem consciência, digno de pêsames
Orações sucedem para ser dissolvido
No calabouço da alma, um Karma
Tênue lucidez faz crer que foi absolvido
Caos, o desvario arrasta sozinho
Espectro que perambula aflito
Até a morte desviou seu caminho.
026 - Óbito
Temido fria amplidão por muitos
Na existência sinistra realidade
Se esvai dias nefastos, inglórios
Morte chega, silêncio, incredulidade
Noites neblina, triste quadro
Mortalha cobre corpo pardacento
Vento da morte, pompas no adro
Espírito se debate em tormento
Passageiros do tempo, pobres mortais
Caminhantes célere ampulheta
Vivem extremos até novos portais
Aura agora símbolo de liberdade
Espírito alça voo, destino definido
Viagem à misteriosa eternidade.
028 - Papéis Mortos
Escritos em desalinho nas linhas
Meus desatinos, único confidente
Letras mal traçadas por lágrimas
As mãos trêmulas consciente
Lembranças bordadas em luto
Faces esculpidas em pedras
Da triste Alma soluços escuto
Sentimentos falsas pilastras
Sem rota amor, carícias e sorrisos
Tatuados papéis pelo tempo amarelados
Do passado, autenticados registros
Incinerados chamas papéis mortos
Cinzas, ato fúnebre, resíduos
Labaredas de amor incinerados.
029 - Fragrâncias sedutoras
No ar, intensa fragrância
Exala jardins floridos
Onde abrem com elegância
Botões flores multicoloridos
Exala jardim da quimera
Tatuada grafia poema
Sedução envolve atmosfera
Aromas de rosas, alfazema
Seduz-me estação primavera
Vermelho vivo do sol nascente
Instantes da existência efêmera
Seduz-me a embriaguez do sonho
Perfume do amor transcende
Entre corpos e almas com carinho.
030 - Memória
Homem pinta sua vida em tela
Percurso iluminado, multicolorido
Cada estação, uma nuance de aquarela
Sonhos, devaneios pincela esculpindo
Enquanto criança, mistério nada revela
Juventude, desenha ideal trajetória
Tempo empalidece brilho da aquarela
Velhice, apenas insights da história
Inúmeras lembranças perdidas
Fragmentos desejos secretos
Discurso quimeras abstraídas
Ciclos, tatuam derrota ou vitória
Metáforas permeiam indecifrável futuro
Eterniza-se em esquecimento a memória.
031 - Acordes da Lira
Lira ressuscitou das sombras
Notas melodiosas audível
Anjos que expõe suas obras
Ofertam aos homens forma afável
Tributo angelical à natureza
Movimenta águas para dança
Lagos e fontes com firmeza
Espumas oceanos com confiança
Sem rota definida com leveza
Brisas sopram em andanças
Autentica fortaleza
Labaredas grandes proporções
Crepitam queimar da madeira
Incendeiam de paixão corações.
032 - Um Homem, uma Mulher
Opostos se atraem ou repulsam
Permeados sentimentos dúbios
Aconchegam e distanciam
Desvario, sedentos desejos
Homem e mulher unidos
Ciclos, passado, presente, futuro
Eterna insatisfação dos sentidos
Realizar sonho prematuro
Homem, masculino, projetivo
Quem sabe feito, tênues esperanças
Busca oásis afetivo
Mulher, feminina, receptiva
Quem sabe, descrente, ausente
Mas sempre na essência, amante.
033 - Museus Vida
Museus, repletos relíquias
Dispersas, telas desbotadas
Indumentárias rotas fidalguias
Fotografias embalsamadas
Lembranças dolorosas histórias
Efemérides catalogadas galerias
Do passado narram trajetórias
Insights fantasmagóricos das memórias
Séculos sonhos, sentimentos
Impregnados cores, sons e formas
Ressuscitam sob olhares por momentos
Velhos pergaminhos títulos nobrezas
Manuscritos unem passado ao presente
Tipologias, certezas e incertezas.
034 - Madrugada
Petrificada, permeada de brumas
Revestida de lembranças, nostalgia
Silêncio denso, feito de sombras
Formam ciclos vida e travessia
Janela ilumina o claustro
Minutos de ansiedade e esperas
Cerceiam emoções tatuam rastro
Despojadas esperanças, quimeras
Exalam raízes florais, sutis aromas
Embriagam sentidos que desfalecem
Dançam silhuetas orvalhadas lágrimas
Em languidez, sou refém memória
Veredas minúsculas, pétalas silvestres
Dois em um, registro história.
035 - Cair da tarde
Quando dia se despede esplendoroso
Circunda-nos sensação nostálgica
Cair tarde banha com ocaso
Revela cores, matizes, como mágica
Pássaros buscam abrigo arvoredo
Homens, aconchego lar se refugiam
Tela natureza abre em segredo
Três reinos irmanados silenciam
Hora sacra, mãos unidas, Ave Maria
Acordes lira efêmera sinfonia
Diálogo íntimo, momento romaria.
O Sol declina no horizonte
Em abraço derradeiro despedida
Beija suave Lua em seu desponte.
036 - Nostalgia
Infinito, estrela pontilhado
Brumas gradativamente dissipar
Magia dueto de corpos, compassado
Nós, duas taças com néctar para amar
Brisa adentra janela a sussurrar
Cortinado oscila suavemente
Alcova luminância lunar
Esperanças crescem mente
Flores soturnas exalam aromas
Solicitude total corpo e alma
Sem paradigmas, dilemas
Alcova atrai, seduz promessas
Aos poucos, sono invade consciência
Abraço nostalgia e suas premissas.
037 - Mistérios
Mansidão águas em alquimia
Marés altas e baixas oceanos
Tempestade devastadora anuncia
Répteis e homens destilam venenos
Fantasmas passeiam em lamentos
Navios à deriva buscam portos
Faces olhares vagos em tormentos
Mares e alma revoltos e absortos
Pássaros noturnos aterrorizam
Galhos desnudos vento e neve
Gotas orvalho se cristalizam
Emoção confinada sentimento
Sonhos, quimeras em contratempo
Vida esvai ampulheta do tempo.
038 - Deusa Aurora
Abundante poeira cósmica, abóboda celestial
O Sol, preso fios de ouro firmamento
Coronário ilumina círculo astral
Vendaval em fúria produz movimento
Mundos desabitados, estranhos, desconhecidos
Ilhas luz e faíscas, chocam-se inúmeras estrelas
Seres alados, Elementais, Anjos misteriosos
Cores suaves pincelam imagens, em aquarelas
Deusa renova-se despertar amanhecer
Nas asas de Bóreas anuncia chegada auroras
Boreal, austral acordam vida e trajetórias
Fenômeno surge entre deuses, astros, planetas
Metamorfose e Universo entrelaçam
Sublime espetáculo luzes, cores simultâneas.
039 - Soneto Diferente
Registra entrelaçar pergaminho e pena
Soneto, pauta escala musical
Que cada nota vibre serena
Trazendo carinho e abraço fraternal
Soneto construído com alegria
Entre paleta e inspiração artistas
Realizações desejos em alquimia
Somando tuas inúmeras conquistas
Um soneto que permeie tua essência
Despertando promessa, incentivo
Sucesso colhidos na existência
Um soneto que entre seus versos
Tenham promessas de paz e riquezas
Tenham sorte e amor nos caminhos.
040 - Quem sabe?
Quem sabe, um espaço inexplorado?
Sinfonia angelical, luzes, cores, aromas
Habitação terrena ou ilusão ilhado
Quem sabe, passagem entre vida e morte?
Quem sabe, sem astros, dias e noites?
Fusão do mar, horizonte, infinito
Habitat almas imortais cintilantes
Quem sabe, signos em sânscrito?
Quem sabe, a eternidade é presente?
O tempo real estações da existência
Quem sabe, incógnita é restante?
Quem sabe, atemporal fração de segundo?
Quem sabe, em indagações percorremos o tempo?
Quem sabe, desperdiçado ou usufruído?
041 - Enigmas
Universo, impenetráveis mistérios
Vida, fluido de energias intrínsecas
Percursos, segredos ocultos
Homem, finito, metáforas evasivas
Sentinelas, alma sabedoria alerta
Sombra, espectro faz companhia
Sentimentos, emoções desperta
Trajetória, efêmera passagem agonia
Tempo, rege existência do finito
Dia, despertar funções dos sentidos
Noite, curvar-se imenso infinito.
Morte, silêncio, sem relíquias
Alma, vaga espaço em desalinho
Fé, Livre Arbítrio, Karma, Profecias
042 - Notas de silêncio
Vento dedilha harpa entre ramos
Espalham melancolia em prenúncio
Folhagens expressam lamentos
Notas musicais pertinentes, silêncio
Frágeis galhos desnudam, se curvam
Folhas soltam-se sinal desapego
Enquanto espíritos natureza observam
Inverno, neve chegarem em sossego
Troncos com cicatrizes contam histórias
Quietude se reservam à sabedoria
Espera o reciclar de trajetórias
Homens se recolhem à serenidade
Alma retrai quimeras, anseios
Tempo se reveste cumplicidade.
043 - Marinheiro da vida
Mar, maresia, velas soltas ventos
Desliza entre mansidão vagas
Homens exercitam cinco sentidos
Longas travessias tempestuosas
Navegam, atracam e buscam aventuras
Corpos desnudos, labaredas, paixão
De porto em porto, encontros quimeras
Sem raízes, alimento carnal, emoção
Marinheiro inebriado, néctar ilusão
Barco à deriva, sabor intempéries
Naufraga rotas da desdita, dor, solidão
Vagas explodem, boca gosto de salinidade
Devaneios, longe um porto, esperança
Sentimento perpassa alma, saudade.
044 - Efêmero
Infinito pensado como perfeito
Finito negação, carência imperfeita
Matizes crepúsculos em trejeito
Ventos quadrantes se aceita
Bóreas, o vento norte, frio cidades
Zéfiro, vento oeste, agradável e suave
Euro, vento leste, senhor tempestades
Noto, vento do sul, árido e insuave
Os “olhos-d’água” ou as nascentes
Que deságuam, encontram afluentes
Ou, intermitentes, leitos sem vertentes
Floradas multicores brotam e fenecem
Sensações, emoções nascem e perecem
Sentimentos em agonia emudecem
045 - Águas
Fontes jorram mansas e inodoras
Cantam quando ventos se tornam brisas
Sussurrar melodias cristalinas
Hinos homenagem às doces Ondinas
Águas mansas contam histórias amor
Ninfas escutam profundos segredos
Sensações, sentimento abrasador
Amantes volúpia e paixão envolvidos
Ondinas recebem oferendas, espelhos
Elementais murmuram, sinfonia perfeita
Aromas envolvem prazeres efêmeros
Notas musicais recordam pares
Histórias, memória, verbo, lágrimas
Canções dos rios a encantar mares.
046 - Rastros
Sonhos pincelados aquarelas
Navegando mares inconsciente
Sensações aterrorizantes mazelas
Mergulho pesadelo deprimente
Fragmentos ciclos fluem na mente
Insegurança entre sagrado e profano
Consciência silêncio dormente
Pensamento ilusório diáfano
Sentimentos encadeados, ausente
Busca rota sem norte, enganos
Ponte entre passado e presente
Insights, lembranças, registros
Esvoaçam entre véus flutuantes da alma
Destino, sina, lágrimas e rastros.
047 - Mares inconsciente
Viajantes caminham em caravanas
Corpos envergados, faces sonolentas
Pensamentos entre paixões humanas
Condenados forca, descaso, desditas
Andarilhos permeados de ansiedade
Grunhidos tétricos almas perdidas
Sofrimento pungente infelicidade
Encontram óbito a ceifar vidas
Uivos, sons de feras malditas
Procissão corpos dilacerados
Acorrentados às tumbas aflitas
Silêncio amedronta o presente
Arrastam-se aos fétidos subterrâneos
Mergulham mares inconsciente.
048 - Sonhos
Livres, sem amarras na mansidão ventos
Desejos alma afloram incontidos
Onde flutuam sentimentos
Plenitude senda de sonhos
Sem temer buscam alternâncias
Na intimidade das existências
Abre-se pórtico realizações plenas
Floradas exalam suaves fragrâncias
Águas cristalinas jorram cascatas
Relva atapetada pétalas coloridas
Emoções e quimeras abstratas
Alma não pode naufragar relembrança
Para ancorar naus da vitória onírica
Busca porto chamado esperança.
049 - Cinza
Firmamento tingido cinza
Terra salpicada flocos neve
Humor humano é negro, ranzinza
Fauna hiberna, flora fenece breve
Inverno conquista a Mãe Natureza
Traz diversidade sentimentos
Sem definição fugazes momentos
Cerceia pensamentos na incerteza
Cinza, sem perspectivas de alegrias
Frio gélido perpassa corpo e alma
Memória jorra lembranças sombrias
Veste tons acinzentados com zelo
Invernada tem silêncio como cúmplice
Adornado com cristais de gelo.
050 - Substância
Lágrimas furtivas lentamente
Desejos que permeiam tua alma
Conflitos entrelaçados mente
Cansaço voz que se acalma
Orações, oferendas, crendices
Habilidade em manusear pena
Plenitude instante em orar preces
Coragem, ousadia que impulsiona
Tez altiva manobra vida
Couraça defesa cobre a pele
Análise chegada e partida
Suspiros profundos essência
Chave que abre sonhos velados
Posso ver, sou tua substância.
051 - Caleidoscópio
Mistério, fragmentos de vidros partidos
Unidos combinados em semelhanças
Multiplicam-se aglutinados coloridos
Refletindo fugazes lembranças
Homem, única e intransferível unidade
Com omissões, sentenças, tormentos
Ranhuras de cicatrizes, saudade
Paisagens invioláveis sentimentos
Sensações, se entrelaçam em lamentos
Como caleidoscópio em seu mistério
Flashs da memória, apenas fragmentos
Emoções multiplicam-se excitantes
Entre cores que esmaecem e brotam
Desejo de viver e colorir instantes.
052 - Noites dos tempos
Visita costumeira penetra aposento
Esgueira-se entre lençóis de sedas
Majestade solidão cerceamento
Transforma-se em labaredas
Angústia se instala emoções
Entre mãos trêmulas, olhar fugidio
Letargia sentidos sem sensações
Palavras sem nexo, o prelúdio
Formas dantesca paredes refletem
Enquanto vertem pela face lágrimas
Frustrações presente comprometem
Noites dos tempos velha história
Silêncio acoberta a sensibilidade
Rastreada, virada e revirada na memória.
053 – Sortilégio
O Homem, a roda da vida em círculos
Às vezes em baixo, outras vezes na altura
Cercados de magia, mistérios e desígnios
Sorte bendita ou apenas cruel aventura.
O encantamento que permeia os sonhos
Quando adentramos em sua essência
Onde, o mago que seduz e os seduzidos
Unem-se em sortilégio de transcendência
Varinha de condão da Fada em sua mão
Olhar insinuante, sorriso cativante
Caldeirão poético, versos em ebulição
Sortilégio é vida, movimento da energia
Sentimentos que oscilam e que se fixam
Alquimia que o poeta processa na poesia.
054 - Que o tempo espere
Desalojei existência adversidades
Vivo o presente, horas lunares ou orvalhos
Caminho devagar sob tempestades
Já esfolei meus pés, duros cascalhos
Pressa promove circunstâncias
Ocasionais ou, simplesmente conjunturas
Horas impalpáveis em reminiscências
Insanidade ciclos desventuras
Não me chamem quando despertar o dia
Não me esperem no dormitar da noite
Se tempo é invencível, sou rebeldia
Que tempo respeite força do hábito
Também sei ser irreverente enigma
Escreverei em poesia, apta ao óbito.
.
055 - Saudade
Silhueta emoções, sentimentos
Olhos permeados opacidade
Ausentes, melancólicos, exauridos
Lágrimas pungentes infelicidade
Corpo inerte, alquebrado e trôpego
Registros marcantes, inolvidáveis
Perambula atalhos desapego
Horas de vigília, aflitivas e cruéis
Alma encarcerada luta aniquilação
Coração pulsa alerta que há vida
Féretro sutil existência da emoção
Presente vazio, sem vitórias trajetória
Saudade, lembranças ilusão que finda
Futuro, será personagem na história.
056 - Manhã de Agosto
Natureza em silêncio desperta
Garoa lava manhã agosto
Melodia vento acalanta
Neve fria umedece rosto
Sol, escondido, preguiçoso
Coberto cinza infinito
Sem tempo risonho sorriso
Ficam humores em conflito
Manhãs nos tornam diferentes
Às vezes, um martírio de tempo
Às vezes, impotentes, impacientes
O vento “vuuuuu” ambiente
Espera campos se cubram de verde
O florir se faça presente.
057 - Tempo de Primavera
Sol abraçar terra raios energia
Céu límpido brancas nuvens
Alvorecer ilumina e traz alegria
Tons, matizes formam paisagens
Botões floridos flores germinam
Orvalho umedece açucenas
Pirilampos vegetação iluminam
Aves noturnas fecham as penas
Melodia magistral se evidencia
Pássaros despertam e afinam cordas
No gorjear verde sinfonia
Natureza renasce em esplendor
Esvoaçar borboletas coloridas
Afago beija-flor pousar na flor.
058 – Luxúria
Corpos suados, entrelaçados entre alvoradas
Mergulhados no mar agitado das carícias
Envolvidos por palavras desenfreadas
A libido entre ondas lascivas e volúpias
Entregues por impulso como reféns
Entre desejos e delírios das sensações
Na demência, como vorazes selvagens
Devoram-se no crepitar das emoções
Despertam e a euforia desvanece
Logica e razão conclui que foi posse
Fogo se faz cinza, a labaredas fenece
Da carne, que desintegrará com o tempo
Pois a essência interna se fez inatingível
Se fez a luxúria de lamento e um passatempo.
059 - Noites tétricas
Noites vazias sem sentimentos
Onde bordo com complacência
Com escritas contraditórias
Lamento e choro dos ventos
Noites corrói de forma voraz
Onde fel é tempero da loucura
Tempestade fustiga contumaz
Águas mar, mata escura
Sinfonia, orquestra selvagem
Lamúrias, tristeza e solidão
Negros fantasmas em abordagem
Três cruzes sal porta, reza forte
Esqueletos bebem taças negras
Saúdam escuridão e morte.
060 - Infinitude da Lua
Lua, infinitude sacra e profana
Homens, mulheres, profundo silêncio
Grande círculo sagrado à Lahanna
Agradece bençãos novo equinócio
Grande beleza, mitologia essência
Reveladora e espiritual benevolente
Transcende, manifesta em abrangência
Ciclos do tempo, passado, presente
Racional e incorpóreo diálogo enigmas
Visões múltiplos universos
Sementes de novos paradigmas
Diversidade misticismo, sem dúvida
Sabedoria, deuses e elementais
Revelam renascer vida.
061 - Eternidade
Trago desejo reprimido
Soprar aos ventos grito de liberdade
Não caminhar pedras sangrando
Sobreviver teias falsa verdade
Peregrinos vestidos ou desnudos
Andam a esmo foge escuridão
Entre tantos, moribundos, feridos
Tétrica e fétida estação da ilusão
Longe o rio, barca, barqueiro
Águas mansas e límpidas, a passagem
Esperança vislumbrar nova paisagem
Em meio escuridão surge claridade
Portal luminescente eternidade
Diáspora almas adentram à felicidade.
062 - Sonetar
Energia envolvente, fascinante
Discorre sonhos e fantasias
Grafia essência insinuante
Impulso secreto nostalgias
Cada linha emoção semblante
Cada rima o crescente lamento
Soma vogais, consoantes, oscilante
Final versos, poeta em pranto
Teu enredo sutil se emaranha
Tuas rimas vestem sentimentos
Disfarça essência da artimanha
Mostras que homem é feito de poesias
E que poesia e sonho também é vida
Sonetar, néctar pobres mortais.
063 - Simplesmente Mulher
Existência, florescer
Esplendor, paixão
Esperança, acrescer
Fascinação, alucinação
Inspiração, excelência
Conquista, fluidez
Sensualidade, astúcia
Paisagem, nudez
Audácia, liberdade
Utopia, grande amor
Efêmera, sua verdade
Anverso, imprevisíveis
Simplesmente Mulher
Enigmáticas, intransponíveis.
064 - Tem dias
Tem dias, vazio se tornam imenso
Turbilhão lembranças, pensamento
Memória algoz sentimentos
Lâminas frias, domínio intenso
Nostalgia, acompanhada saudade
Verbo afiado fere alma e ego
Perco-me e mergulho ansiedade
Busco quimeras no aconchego
Algozes, soma profundas marcas
Corpo prisioneiro funesta solidão
Cicatrizes desilusões amargas
Alma, envolvida por enigmas
Mente, sentimentos abstraio
Busca, liberdade nas conquistas.
065 - Feitiços
Sussurros, pronúncia insuficiente
Mãos trêmulas buscam prazer tato
Olhos embevecidos no ausente
Odores inebriantes mascaram olfato
Desejo carne desafio premente
Molda imagens névoa ausência
Desenha inefável ideia semblante
Retorna fato como consciência
Fontes, consumo desvario iminente
Feitiços, germinados no amor, magia
Labirintos, percorridos inconsciente
Feitiços libera corpo, alma permeada
Sentir imensurável poder da mente
Se auto enfeitiçar e viver cerceada.
066 - Noites agourentas
Natureza veste cinzento
Dias tristes, melancólicos
Tênues esperanças acalento
Entre prenúncios maquiavélicos
Fantasmas percorrem a mente
Acentuando solidão e perdas
Silêncio companhia do presente
Lembranças fugazes elencadas
Vendavais assobiam assustadores
Ecos retornam e invadem a natureza
Acordam os animais espectadores
Até as marés com vagas violentas
Invadem terra, a natureza humana
Passamento nas madrugadas agourentas.
067 - Travessia da Madrugada
Caminho, permeado de densas brumas
Lago fétido, barco, remo para açoite
Desejo insensato, quimeras efêmeras
Nuances, ofuscam a tênue luz da noite
Cronos, Deus do Tempo e contextos
Papel, rabiscado de emoções, pensamentos
Linhas, indecifráveis, versos em documentos
Legado da existência e sentimentos
Chama do candeeiro, aos poucos esmaece
Sentimentos, apenas resíduos em fragmentos
Lágrimas, o rosto em desalinho umedece
Travessia, um portal entre vida e morte
Nua realidade, transitar no algoz tempo
Madrugada, a companhia é passaporte.
068 – Macrocosmo
Abundante poeira cósmica, a abóboda celestial
Sol preso com fios de ouro no firmamento
Coronário ilumina o círculo astral
Vendaval em fúria produz areamento
Mundos habitados, estranhos, desconhecidos
Ilhas de luz, chocam-se inúmeras estrelas
Seres alados, elementais ou anjos misteriosos
Cores suaves pincelam amanhecer em aquarelas
Bóreas anuncia a fugaz chegada das auroras
Boreal ilumina o Norte, austral enfeita o Sul
Deusa Aurora renova-se em nuances delicadas
Escultura de alabastro compõe a apoteose
Sublime espetáculo de cores simultâneas
No Macrocosmo se entrelaçam em metamorfose.
069 - Credos
Inúmeros, de diversas fontes e dogmas
Para uns, credo é o exercício da fé
Para outros, soltar-se das algemas
Alguns acreditam no palpável, o que vê
Crer em Deus Todo Poderoso, o Criador
Deve ser o alicerce para todas as crenças
Pois a espiritualidade é um apaziguador
Para equilibrar agruras e ações das almas
Não é um rótulo ou objeto que te fará crente
Nem o estapafúrdio é que te fará Mestre
Pois a fé, em silêncio te fará benevolente
A humanidade se depara com profetas falsos
Que se enaltecem a procura de novos adeptos
Mas só Deus, o UNO amou seus rebanhos.
070 - Anjos da Noite
Temeridade se instala na obscuridade
Névoas, vapores pestilentos, cinzentos
Bramido pássaros noturnos, bestialidade
Tempestade anuncia, final dos tempos
Ventos fustigam, destruição, sinistros
Portais abrem, rangem portas, gemidos
Abrem sulcos, multiplicam-se precipícios
Séquitos Anjos da Noite, surgem sombrios
Nas mãos, pergaminho escrito em hieróglifos
O semear nocivo para os insanos incultos
Homens que perfazem fileira nos caminhos
Mente confusa e engenhosa destila veneno
De espíritos que só a vingança sacia a sede
Ardem chamas, enquanto óbito faz aceno.
071 - O Velejar da Vida
O homem, barco que veleja no planeta
No porão, carrega desejos confinados
No convés, sentimentos, ampulheta
Na escotilha, observa mar em devaneios
A travessia, inquietude dos andantes
Por intempéries que natureza descortina
Lufadas constantes de emoções conflitantes
Maremotos, inundam luz lamparina
Equilibra-se entre ondas mansas da ilusão
Usa remos da esperança para realizações
Sem bússola, sem norte, profunda solidão
O barco veleja, o homem cansado adormece
Rompem-se grilhões do inexorável inconsciente
Tempo passa, barco atraca, na força da prece.
072 - Doce Magia
Faz-se na fantasia noite, no sossego
Cumplicidade ornamentada por fantasias
Dois, em jogo instigante de chamego
Uma cama forrada de pétalas macias
Sonho onde permitimos a metamorfose
Rompemos o casulo e como borboleta
Alçamos o voo além da terra, à apoteose
Em busca da outra metade na ampulheta
Alquimia da fantasia nos incita divagar
Sobre origem dos néctares escondidos
Viciante e permissivo prazer abrasar
Um mergulho no infinito e sua imensidão
Alcançamos, astros, Deusa Lua e estrelas
Mais uma vez, a quimera intensa da ilusão.
073 - Ciclos da Vida
A vida, brota, germina, se faz existência
Família e amigos ofertam boas vindas reunidos
Desejando sorte benfazeja, benevolência
Que protegido, cresça entre abraços e beijos
A infância e juventude de mãos entrelaçadas
Mas a vida só inicia com construção definida
Marcadas por erros, estigmas sociais e perdas
Amadurecimento alicerça rota estabelecida
Muitas vezes, sem perceber, a maturidade
Apresenta-se, não pede licença e se instala
Desnuda um percurso de verdades e liberdade
Desafia nossa sabedoria, frente os pesares
Abre nossas bagagens e mostra a herança
Ciclos, semeadura e colheita, nos andares.
074 - Microcosmo
O homem, um pequeno universo
Habitante Planeta, um passageiro
Sem conhecer essência de seu reverso
Nas tentações ruma ao despenhadeiro
Uma imagem reduzida do macrocosmo
Moldado com emoções e sentimentos
Permeado com atributos do Cosmo
Pois a anatomia possui quatro elementos
Instável, não mede atos e consequências
Desconhece a direção e missão atribuída
Impelido, nas incertezas das contingências
Sua visão, não vê as extremidades existência
Desconhece o início, meio e fim do Universo
A metamorfose produz, abastança ou carência.
075 - Oscilações
Inquietações que perseguem dionoturna
Pois se a noite é vazia, intensa e espertina
O renascer do dia torna-se eterna rotina
Pensamentos exauridos sob luz lamparina
A vida, um casulo à espera das metamorfoses
Com intempéries na natureza avassaladora
O senhor do tempo administra neuroses
Enquanto a derradeira quimera desarvora
Oscilações entre ruídos e enigmas
Sussurros com eco do indelével silêncio
Mistérios e segredos que habitam as almas
São sensações e emoções que se entrelaçam
Como alerta de sentimentos ainda latentes
Que desejam semelhantes que se abraçam.
076 - Juízo Final
Tempestade em fúria, feroz ventania
Almas, enfileiradas oscilam, em apatia
Inaudível, talvez uma prece, em agonia
Lamentam sina, desdita em apologia
Sombras fantasmagóricas, nevoeiros
Desfilam valas de águas escuras e fétidas
Que sulcaram os desabitados atoleiros
Arrastando grilhões em gargalhadas
Outras, contam contas dos rosários brancos
Que contrastam com parcas vestes negras
Orações por misericórdia aos santos
Assim se postam em vigília e aguardam sinal
Quando Anjos de Deus tocarão trombetas
O Livro da Vida será aberto, o Juízo Final.
077 - Liberdade da Alma
Nascimento, apogeu e morte, em dia cinzento
Na terra úmida e lúgubre um corpo é depositado
Seu fluído vital, processo do desprendimento
A escravidão dos vulneráveis sentidos inumado
Sem grilhões das ideias pré-estabelecidas
Sob o governo déspota das concepções humanas
Liberdade antes inalcançável são delineadas
Com testemunho de esperanças pequenas
Alma, livre rumo ao infinito desconhecido
Como pássaro flamejante em oscilantes labaredas
Ascendendo à essência plena do amor represado
Divisa o distante horizonte entre estrelas
Flutua em liberdade na busca do amanhecer
Longínquo, entre energias paralelas.
078 - Refrigério
Uma noite nefasta, escura, de fétidos cheiros
Som ao longe, tambores, marcando lamento
Anunciando o retorno dos bravos guerreiros
Cavalgando velozes pelo tempo como vento
Gritos assustadores, harpias aves de rapina
Trovoadas e relâmpagos mostram a descida
Espada de prata rasga céu entre a neblina
Manto estrelas fulgura e ilumina a vida
Luz incide sobre soldados camuflados
Bandeiras tremulam na brisa noturna
Homens deixam face descoberta, enfileirados
Corpos decepados, ensanguentados, enrolados
Para pompas, banquete das almas, refrigério
E retornam heróis de guerras ignorados.
079 - Prisão da Vida
Preconceitos que cerceiam o homem
Companhia da covardia dia a dia
Que impede de se reconhecer refém
E ser livre para realizações e alegria
Múltiplos Egos nocivos aprisionam
A divindade cristalina de cada homem
Instalados no inconsciente que ocultam
Trajetórias de sombras que consomem
Sensações em fragmentos arrastados
Grilhões invisíveis, emoções aprisionadas
Sentimentos decepados, por óbito enterrados
Até que um dia o despertar se evidencia
É passado a limpo, passado e presente
Sem projetos, o futuro é ausência.
080 – Carrilhões da agonia
Quem sabe um pesadelo ou viagem?
Escalada em escarpas montanhosas
Silhuetas se movem por trilhas aquém
Homem ou Almas em fel de lágrimas
Não lembram a origem, ancestralidade
Sem saber o que reserva o caminho
O norte definido ou ambiguidade
Sorte ou sina, pedras em desalinho
O pêndulo, o tempo, a ampulheta
Carrilhões, único som que sinaliza
Uma vida, um óbito, uma estatueta
Eco atordoa mente com engano
Corpo cai prostrado e fétido
Alma desiste, desaba no desengano.