Rascunhos da Alma, dedicado à literatura poética. 

Sonetos

Sonetos

 

 

 

 

 

É denominado soneto o gênero lírico de origem italiana. Seu nome deriva do termo franco-provençal "sonet", diminutivo de "suono" (som, melodia), que por sua vez, tem origem na palavra latina "sonus". Sua criação é geralmente atribuída a Francesco Petrarca, humanista do século XIV, mas hoje já se sabe que tal forma é pelo menos um século mais antiga, já praticada por Giacomo de Lentino (1210 - 1260).

O primeiro ponto importante da estrutura do soneto é a métrica. Cada um dos catorze versos devem possuir a mesma métrica, o que significa que devem apresentar o mesmo número de sílabas poéticas. O soneto é composto geralmente por dez sílabas poéticas em cada verso, mas alguns apresentam versos de doze sílabas poéticas, os chamados dodecassílabos ou alexandrinos.

O próximo ponto na composição do soneto é a ordem em que os versos apresentam rimas, ou o posicionamento das rimas. Para os quartetos, são três as formas principais de posicionamento:

. rimas entrelaçadas ou opostas – abba - o primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro.

. rimas alternadas – abab – o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo rima com o quarto.

. rimas emparelhadas – aabb - o primeiro verso rima com o segundo e o terceiro rima com o quarto.

            Finalmente, outro conceito que é tratado dentro de um soneto é a sonoridade, ou seja, o posicionamento das sílabas tônicas (ou fortes) em cada um dos versos. Uma vez combinadas, tais sílabas fazem com que o soneto assuma uma dinâmica melódica, aproximando-se da melodia de uma canção. Sob esse aspecto, o verso decassílabo recebe duas classificações:

. heróico - trata-se do decassílabo com sílabas tônicas nas posições 6 e 10.

. sáfico - é o decassílabo cujas sílabas tônicas se encontram nas posições 4, 8 e 10.

Já o verso dodecassílabo possui como única característica as sílabas tônicas na sexta e na décima segunda sílabas.

Bibliografia: TRANCOSO, Bernardo. Como escrever um soneto.

 

  

001 - Segredos

 

Compartimentos de ébanos velados

Acesso, só quem possui a chave

Abrem os portões enferrujados

Emoções reunidas conclave

 

Bagagens enclausuradas são fardos

Desfiadas em rosário de esperanças

Emoções, sentimentos roubados

São feridas, cicatrizes confinadas

 

Inúmeros paradigmas rotulados

Elos rompem e se partem

Tabus invioláveis cultuados

 

Bagagem lembranças abandonadas

Registros pelo tempo autenticados

Digitais em cada sinete tatuadas.

 

  

002 - Dançam labaredas

 

Sufoca-me o calor que emana ardente

Mistério das curvas sinuosas na dança

Que atraem como imã olhar consciente

Na sintonia do fogo o desejo se lança

 

Sussurros, suspiros, respiração afoita

Portal do mistério se desvenda

Clareira aberta mágica floresta

Divindade fogo abrasa, se desnuda

 

Dançam labaredas como serpentes

Enroscadas na energia que aceita

E salivam peles inconsequentes

 

Dançam labaredas em possessão

Silente e nefasta noite iluminada

Aquecem desejos do coração.

 

 

003 - Esculturas

 

Quimeras em torres intransponíveis

Acima penhascos, lanças, mastros

Vigiados lobos cinzentos, feras mortais

Estátuas, heróis, vasos de alabastros

 

Ascendem vertigens, o que antevimos

Esplendor trevas, soma batalhas

Se precipitam estilhaços, resíduos

Emoções, por venenos esfaceladas

 

Esculturas, troféus, elmos, armaduras

Couraças cobrir sensações fugidias

Faróis de luz desvendar escrituras

 

Pergaminho, tempo metamorfoses

Reflexos luas que inebriam mortais

De sóis, delírios em apoteoses.

 

  

004 - Crepúsculo

 

Sol despede-se sobre riachos

Pássaros tristes recolhem-se quietude

Sem vento, galhos desnudos, silenciosos

Aguardam neve gélida caindo amiúde

 

Firmamento, tênues nuances rajadas

Refletem matizes memória retalhada

Residem lembranças delicadas

 Ciclos vida fragmentada

 

 Mergulho emoções calmamente

Perfeita sintonia com alma

Brota âmago prece suavemente

 

Sem temer sombras caminho

Tormentas, pesares secretos

Tempo escrito em pergaminho.

 

 

005 - Miragens

 

Torres intransponíveis sonhos presos

Penhascos, lanças, mastros

Vigiados ferozes lobos cinzentos

No interior, gritos, gemidos

 

Ascendem miragens, tristes pesadelos

Luas sangrentas, duelos, batalhas

Ressurgem fragmentos flagelos

Sentimentos revestidos mortalhas

 

 Símbolos, despojos, elmos, armaduras

Couraças cobrir desesperanças

Candeeiros iluminam escrituras

 

Tempo, ciclos vorazes, metamorfoses

Reflexos lua inebriam mortais

Em reverencia, altar deuses.

 

 

006 - Fantasmas dos Mares

 

Ventos fustigando indomáveis

Castiga impenetráveis oceanos

Passarelas embarcações vulneráveis

Naufragam mares dos mortos

 

Flutua longe, sombras, espumas

Espera que mar devolva corpos

Criptas e cavernas profundas

Divindades guardam oceanos

 

Vestes translúcidas cobrem espectros

Pois no sopro vital lhe pertenceram

Em lamento reclamam invólucros

 

Abismos insondáveis do mar, mistérios

Dualidade, água é vida, sepulcro

Energias vital naufragam sem critérios.

 

 

007 - Imperscrutável

 

Noites vazias, poeta, pena, esboço

Lá fora, borrasca, flores suicidas

Caem galhos em alvoroço

Ruínas, no passado erguidas

 

 Assobiam ventos, lamentos

Pássaros, silêncio taciturno

Homem se cobre com mantos

Sucumbe mágoas diuturno

 

Infinito veste de incertezas

Terra veste desesperança

Emoções vestem asperezas

 

Versos perdem rima e métrica

Fantasmas dançam frenéticos

Memória, lembrança é tétrica.

 

 

008 - Itinerantes

 

Viajantes rodam terra em caravanas

Corpos envergados, faces sonolentas

Respirando ar seco, pupilas dilatadas

Condenados à forca, descaso e desditas

 

Desventurados, rotas vestes, maltrapilhos

Gritos aterrorizados desafiam trevas

Dor lancinante de infelicidade imersos

Luta inglória, palavras, defesas evasivas

 

Assim decorre tempo entre ciclos

Cansaço diurno do corpo físico

Fantasmas e espectros noturnos

 

Esperança encontrar aconchegos

Parcos tapetes ou pelegos

Sombra para descansar ossos.

 

 

009 - Espectros

 

Sino tange longe, lamúrias entrecortadas

Espectros dilacerados, negros prantos

Miseráveis horas lúgubres, soturnas

Perambulam feridos, dores e gemidos

 

Espectros de Hades, ébano cobertos

Arrastando-se profundezas submundos

Infinitos espíritos curvados sobre ferros

Os mantém cravados em infernos

 

Ventos ásperos perpassam distantes colinas

Arvoredos inebriados dançam noite de breu

Unem-se ao gemer da Harpia Aelo, borrascas

 

Encarquilhadas bruxas em risadas

Brotam répteis das profundezas

Sombras deformadas, formas estranhas.

 

 

010 - Oferendas

 

Lautos banquetes reis e rainhas

Servidas baixelas ouro e prata

Vinho taças cravejadas pedrarias

Sons flautins, magia da musicata

 

Escritas lendas em pergaminhos

Símbolos, orações, divinatórias ocultas

Acima penhascos, lanças, mastros

Sonhos nas torres são sepultas

 

Vigiados ferozes lobos indefinidos

No interior, vasos alabastros

Ascendem miragens, tristes pesadelos

 

Luas sangrentas, duelos, batalhas

Ressurgem, fragmentos flagelos

Sentimentos revestidos de mortalhas.

 

 

011 - Harpas

 

Ecoam notas que soluçam

Dedilham segredos avulsos

 Almas impregnadas mistérios

Mãos e dedos convulsos

 

Melodia triste desola

Como vento entre arvoredos

Dor que alma assola

Confina traumas e medos

 

Sincronia de sentimentos

Percurso de peregrina

Corpo fenece em prantos

 

Harpas, por Anjos dedilhadas

Homens dedilhando harpas,

Homenagens perpetuadas.

 

 

012 - Liberdade

 

Habita alma impregnada sonhos

Transparentes quimeras emergem

Instantes júbilo, outros tristonhos

Iluminam realizações que se perdem

 

Transcritos pena e pergaminhos

Sensações, emoções falam de desejos

Versos transbordando sentimentos

Sem disfarces, profanos ou insanos

 

Palavras ternas em alfarrábios

Carência, pranto brota e aflora

Embarcam liberdade que ancora

 

Sonetos escritos noites inquietas,

Artesão oferta seu legado poético

Em cada verso são tatuadas palavras.

.

 

 013 - Amantes

 

Inunda alcova queima ervas aromáticas

Envolvem sutilmente extenuados amantes

Aspiram sensualidade das fragrâncias

Repousam almofadas displicentes

 

Fumaça espessa envolve recinto

Desenha formas paixão e sedução

Libido atrai impulso, instinto

Prometem sensações prazer e paixão

 

Labaredas dançam incandescente

Sinuosas, lascivas aprisionando mente

Atrevidas enroscam e acariciam formas

 

Eros em seu reinado aplaude caça

Amam-se como amigos e amantes

Dentro da finitude instantes.

 

 

014 - Ecos da Alma

 

Repercutem sintonia céu e terra

Uníssono com brisa quatro ventos

Mistério impenetrável, infinitos instantes

Entrelaçados acordes Anjos

 

Viajam rumo amplidão de estrelas

Portais abrem para liberar sonhos

Suspiros, lamentos e quimeras

Para mortais realizarem desejos

 

Ecos Alma, no âmago, sentimento

Explode rompe fios da sensibilidade

Lágrimas simbolizam cerceamento

 

Ecos da Alma posterga paradigmas

Reencarnam terra como microcosmo

Ou em pergaminhos, como poesias.

 

 

015 - Rabiscos

 

Versos brotando, floresce razões

Revestidos percepções e sensações

Mente divaga em todas estações

Adentram sentimentos e emoções

 

Rabiscar é gerar versos

Formam poemas testemunhos

Sonhos falam saudade e anseios

Desnudam véus suaves caminhos

 

Lágrimas formam rosário de pérolas

Escorrem e formam rasas poças

Umedecem tênues fios esperanças

 

Rabiscar amaina tempestade em fúria

Caminho ao acaso percorre a poesia

Energia da paz se faz melodia.

 

 

016 - Noite lúgubre

 

Sobre neve pesados andares

Curvam-se e resvalam noite

Sob sonidos assustadores

Vozes guturais como açoite

 

Vento gélido castiga tez

Dedilha desnudos galhos

Que lamentam com timidez

Bruscos atalhos dos caminhos

 

Pássaros se escondem entre asas

Estrelas desfalecem firmamento

Lua minguante se esconde nas névoas

 

Fantasmas acorrentados algemas

Noite lúgubre se torna abismo

Chuva grossa inundando valas

 

 

017 - Ninfas

 

Rio águas doces e mansas

Abriga ninfas cabelos dourados

Esvoaçando em balé leves brisas

Encanta seus segredos guardados

 

Vive fantasia de seus castelos

Atapetados flores perfumadas

Espelhos refletem seus encantos

Encontro metas delineadas

 

Doce olhar amaina tempestades

 Melodia transforma a paisagem

Mãos o marulhar das águas tecem

 

Barqueiros escutam conselhos

Lá vão barcos cruzar os rios

Travessia de paz e sucessos.

 

 

018 - Zéfiro

 

 

Pradarias multicoloridas

Bosques tons verdejantes

Veredas cobertas de aromas

Recebem Zéfiro, os habitantes

 

Entre múltiplas flores arroxeadas

Nesta fresca estação, Primavera

Beijos brisa nas tenras folhas

Deus sutil misteriosa atmosfera

 

Tempo germinar flores e amores

Acompanhar trinar dos pássaros

Renascer e renovar ciclos

 

Desnuda-se céu cores pálidas

Colorido nas brisas dos ocasos

Veste branco na brisa das auroras.

 

 

019 - Destino nos Sonhos

 

Livre amarras mergulho brisa dos ventos

Desejos alma que afloram incontidos

Permito flutuar verdadeiros sentimentos

Plenitude senda palmilhada de sonhos

 

Sem temer intempéries, busca desafios

Mergulhar traumas, tabus e enigmas

Portas ocultas guardam mistérios

Perseguir realizações sem lágrimas

 

Nas águas cristalinas das cascatas

Relva atapetada pétalas macias

Por emoções que foram subtraídas

 

Precisa encontrar porto esperança

Alma não pode naufragar desventura

Ancorar naus, no mar da lembrança.

 

 

 020 - Fragmentos

 

Registros, rascunhos escritos

Letras, maiúsculas ou minúsculas

Nas linhas do tempo em lamentos

Enigmas encarcerados nas almas

 

Através pena e pergaminhos

É grafada a realidade, autobiografia

Revela fatos, mistérios ocultos

Velhos sentimentos em alquimia

 

Compartimentos da consciência

Guardados ciclos do tempo

Transcrevo emoção com ousadia

 

Lembranças que habitam memória

Fragmentos, para não esquecimento

Documentos que geram história.

 

 

 021 - Sabor a mim

 

Uma taça borbulhando espumante

Às vezes, sorvo néctar com avidez

Sabor “Vida”, alimento estimulante

Outras vezes, lentamente, em languidez

 

Uma taça, efervescente de fantasia

Entrelaçada com fluidez da existência

Às vezes, sorvo como fera a energia

Outras vezes, degusto com experiência

 

Uma taça, os desejos em cortejo

Brinde embriaga com sutil leveza

Bênção cada instante é benfazejo

 

Uma taça, brinda esperado destino

Embalar no sono, o tecer de quimeras

Nas notas suaves de um violino.

 

 

022 - Magia das Palavras

 

Pena e pergaminho, um dueto

Ferramenta para autenticar poesia

Despertar seu adormecer discreto

Grafias para mostrar sua magia

 

Inspiração unir quatorze versos

Transformar em soneto com essência

Ou buscar métrica e rima nos reversos

Entregando às palavras a incumbência

 

Magia das sensações que despertam

Emoções fluem como correnteza

Sentimentos desconcertam

 

Alquimia, sincronia entre sábios

 Poeta, artesão com sensibilidade

Poesia, um alfabeto em alfarrábios.

 

 

023 - O Mar

 

Magia infinita vai e vem das ondas

Que explodem beira cais ou beira-mar

Sem obstáculos, sentinelas em rondas

Responsáveis habitantes a reinar

 

A maresia exala e flui emoções

No recôndito profundo do ser

Orações com devoção, reflexões

Esperanças alegrias amanhecer

 

Vagas, imensidão tempestuosas

Arrastando, destruindo tudo caminho

Inquietas, turbulentas, intensas, violentas

 

Espumas serenas, calmas, pacíficas

Fonte inspiração, melancolia

Abóbada, terra, luz, sombras.

 

 

 024 - Arte sedução

 

Sedução, arte requer sensibilidade

Insinuar-se, captar plena confiança

Instigar conquista sutil habilidade

Explorar desejos temperança

 

Esquecer relógio que marca tempo

Fazer-se notado sem estar presente

Ser pontual, não moldar contratempo

Na retórica ser objetivo e coerente

 

Sem ousar sexo asselvajado

Esqueça profissão, negócios, sucesso

Em lugar joias ofertar lírio rajado

 

Com carisma e astúcia, mesma medida

Guerreiros na arena, sedutor e seduzido

Zele para não se extinga a nova vida.

 

 

025 - Esquecido

 

Desconhecido, sem nome e sobrenome

Esquecido, sem rota, destino

Miserável, desnutrido sobrevive fome

Esfolando pés, estranho figurino

 

Livre no cárcere fétido existência

Companhia vícios infames

Ainda criança, tenra adolescência

Sem consciência, digno de pêsames

 

Orações sucedem para ser dissolvido

No calabouço da alma, um Karma

Tênue lucidez faz crer que foi absolvido

 

Caos, o desvario arrasta sozinho

Espectro que perambula aflito

Até a morte desviou seu caminho.

 

 

026 - Óbito

 

Temido fria amplidão por muitos

Na existência sinistra realidade

Se esvai dias nefastos, inglórios

Morte chega, silêncio, incredulidade

 

Noites neblina, triste quadro

Mortalha cobre corpo pardacento

Vento da morte, pompas no adro

Espírito se debate em tormento

 

Passageiros do tempo, pobres mortais

Caminhantes célere ampulheta

Vivem extremos até novos portais

 

Aura agora símbolo de liberdade

Espírito alça voo, destino definido

Viagem à misteriosa eternidade.

 

 

028 - Papéis Mortos

 

Escritos em desalinho nas linhas

Meus desatinos, único confidente

Letras mal traçadas por lágrimas

As mãos trêmulas consciente

 

Lembranças bordadas em luto

Faces esculpidas em pedras

Da triste Alma soluços escuto

Sentimentos falsas pilastras

 

Sem rota amor, carícias e sorrisos

Tatuados papéis pelo tempo amarelados

Do passado, autenticados registros

 

Incinerados chamas papéis mortos

Cinzas, ato fúnebre, resíduos

Labaredas de amor incinerados.

 

 

 029 - Fragrâncias sedutoras

 

No ar, intensa fragrância

Exala jardins floridos

Onde abrem com elegância

Botões flores multicoloridos

 

Exala jardim da quimera

Tatuada grafia poema

Sedução envolve atmosfera

Aromas de rosas, alfazema

 

Seduz-me estação primavera

Vermelho vivo do sol nascente

Instantes da existência efêmera

 

Seduz-me a embriaguez do sonho

Perfume do amor transcende

Entre corpos e almas com carinho.

 

 

030 - Memória

 

Homem pinta sua vida em tela

Percurso iluminado, multicolorido

Cada estação, uma nuance de aquarela

Sonhos, devaneios pincela esculpindo

 

Enquanto criança, mistério nada revela

Juventude, desenha ideal trajetória

Tempo empalidece brilho da aquarela

Velhice, apenas insights da história

 

Inúmeras lembranças perdidas

Fragmentos desejos secretos

Discurso quimeras abstraídas

 

Ciclos, tatuam derrota ou vitória

Metáforas permeiam indecifrável futuro

Eterniza-se em esquecimento a memória.

 

 

031 - Acordes da Lira

 

Lira ressuscitou das sombras

Notas melodiosas audível

Anjos que expõe suas obras

Ofertam aos homens forma afável

 

Tributo angelical à natureza

Movimenta águas para dança

Lagos e fontes com firmeza

Espumas oceanos com confiança

 

Sem rota definida com leveza

Brisas sopram em andanças

Autentica fortaleza

 

Labaredas grandes proporções

Crepitam queimar da madeira

Incendeiam de paixão corações.

 

 

 032 - Um Homem, uma Mulher

 

Opostos se atraem ou repulsam

Permeados sentimentos dúbios

Aconchegam e distanciam

Desvario, sedentos desejos

 

Homem e mulher unidos

Ciclos, passado, presente, futuro

Eterna insatisfação dos sentidos

Realizar sonho prematuro

 

Homem, masculino, projetivo

Quem sabe feito, tênues esperanças

Busca oásis afetivo

 

Mulher, feminina, receptiva

Quem sabe, descrente, ausente

Mas sempre na essência, amante.

 

 

 033 - Museus Vida

 

Museus, repletos relíquias

Dispersas, telas desbotadas

Indumentárias rotas fidalguias

Fotografias embalsamadas

 

Lembranças dolorosas histórias

Efemérides catalogadas galerias

Do passado narram trajetórias

Insights fantasmagóricos das memórias

 

Séculos sonhos, sentimentos

Impregnados cores, sons e formas

Ressuscitam sob olhares por momentos

 

Velhos pergaminhos títulos nobrezas

Manuscritos unem passado ao presente

Tipologias, certezas e incertezas.

 

 

034 - Madrugada

 

Petrificada, permeada de brumas

Revestida de lembranças, nostalgia

Silêncio denso, feito de sombras

Formam ciclos vida e travessia

 

Janela ilumina o claustro

Minutos de ansiedade e esperas

Cerceiam emoções tatuam rastro

Despojadas esperanças, quimeras

 

Exalam raízes florais, sutis aromas

Embriagam sentidos que desfalecem

Dançam silhuetas orvalhadas lágrimas

 

Em languidez, sou refém memória

Veredas minúsculas, pétalas silvestres

Dois em um, registro história.

 

  

035 - Cair da tarde

 

Quando dia se despede esplendoroso

Circunda-nos sensação nostálgica

Cair tarde banha com ocaso

Revela cores, matizes, como mágica

 

Pássaros buscam abrigo arvoredo

Homens, aconchego lar se refugiam

Tela natureza abre em segredo

Três reinos irmanados silenciam

 

Hora sacra, mãos unidas, Ave Maria

Acordes lira efêmera sinfonia

Diálogo íntimo, momento romaria.

 

O Sol declina no horizonte

Em abraço derradeiro despedida

Beija suave Lua em seu desponte.

 

 

 036 - Nostalgia

 

Infinito, estrela pontilhado

Brumas gradativamente dissipar

Magia dueto de corpos, compassado

Nós, duas taças com néctar para amar

 

Brisa adentra janela a sussurrar

Cortinado oscila suavemente

Alcova luminância lunar

Esperanças crescem mente

 

Flores soturnas exalam aromas

Solicitude total corpo e alma

Sem paradigmas, dilemas

 

Alcova atrai, seduz promessas

Aos poucos, sono invade consciência

Abraço nostalgia e suas premissas.

 

 

 037 - Mistérios

 

Mansidão águas em alquimia

Marés altas e baixas oceanos

Tempestade devastadora anuncia

Répteis e homens destilam venenos

 

Fantasmas passeiam em lamentos

Navios à deriva buscam portos

Faces olhares vagos em tormentos

Mares e alma revoltos e absortos

 

Pássaros noturnos aterrorizam

Galhos desnudos vento e neve

Gotas orvalho se cristalizam

 

Emoção confinada sentimento

Sonhos, quimeras em contratempo

Vida esvai ampulheta do tempo.

 

  

038 - Deusa Aurora

 

Abundante poeira cósmica, abóboda celestial

O Sol, preso fios de ouro firmamento

Coronário ilumina círculo astral

Vendaval em fúria produz movimento

 

Mundos desabitados, estranhos, desconhecidos

Ilhas luz e faíscas, chocam-se inúmeras estrelas

Seres alados, Elementais, Anjos misteriosos

Cores suaves pincelam imagens, em aquarelas

 

Deusa renova-se despertar amanhecer

Nas asas de Bóreas anuncia chegada auroras

Boreal, austral acordam vida e trajetórias

 

Fenômeno surge entre deuses, astros, planetas

Metamorfose e Universo entrelaçam

Sublime espetáculo luzes, cores simultâneas.

 

  

 039 - Soneto Diferente

 

Registra entrelaçar pergaminho e pena

Soneto, pauta escala musical

Que cada nota vibre serena

Trazendo carinho e abraço fraternal

 

Soneto construído com alegria

Entre paleta e inspiração artistas

Realizações desejos em alquimia

Somando tuas inúmeras conquistas

 

Um soneto que permeie tua essência

Despertando promessa, incentivo

Sucesso colhidos na existência

 

Um soneto que entre seus versos

Tenham promessas de paz e riquezas

Tenham sorte e amor nos caminhos.

 

 

040 - Quem sabe?

 

Quem sabe, um espaço inexplorado?

Sinfonia angelical, luzes, cores, aromas

Habitação terrena ou ilusão ilhado

Quem sabe, passagem entre vida e morte?

 

Quem sabe, sem astros, dias e noites?

Fusão do mar, horizonte, infinito

Habitat almas imortais cintilantes

Quem sabe, signos em sânscrito?

 

Quem sabe, a eternidade é presente?

O tempo real estações da existência

Quem sabe, incógnita é restante?

 

Quem sabe, atemporal fração de segundo?

Quem sabe, em indagações percorremos o tempo?

Quem sabe, desperdiçado ou usufruído?

 

 

 041 - Enigmas

 

Universo, impenetráveis mistérios

Vida, fluido de energias intrínsecas

Percursos, segredos ocultos

Homem, finito, metáforas evasivas

 

Sentinelas, alma sabedoria alerta

Sombra, espectro faz companhia

Sentimentos, emoções desperta

Trajetória, efêmera passagem agonia

 

Tempo, rege existência do finito

Dia, despertar funções dos sentidos

Noite, curvar-se imenso infinito.

 

Morte, silêncio, sem relíquias

Alma, vaga espaço em desalinho

Fé, Livre Arbítrio, Karma, Profecias

 

 

 042 - Notas de silêncio

 

Vento dedilha harpa entre ramos

Espalham melancolia em prenúncio

Folhagens expressam lamentos

Notas musicais pertinentes, silêncio

 

Frágeis galhos desnudam, se curvam

Folhas soltam-se sinal desapego

Enquanto espíritos natureza observam

Inverno, neve chegarem em sossego

 

Troncos com cicatrizes contam histórias

Quietude se reservam à sabedoria

Espera o reciclar de trajetórias

 

Homens se recolhem à serenidade

Alma retrai quimeras, anseios

Tempo se reveste cumplicidade.

 

 

 043 - Marinheiro da vida

 

Mar, maresia, velas soltas ventos

Desliza entre mansidão vagas

Homens exercitam cinco sentidos

Longas travessias tempestuosas

 

Navegam, atracam e buscam aventuras

Corpos desnudos, labaredas, paixão

De porto em porto, encontros quimeras

Sem raízes, alimento carnal, emoção

 

Marinheiro inebriado, néctar ilusão

Barco à deriva, sabor intempéries

Naufraga rotas da desdita, dor, solidão

 

Vagas explodem, boca gosto de salinidade

Devaneios, longe um porto, esperança

Sentimento perpassa alma, saudade.

 

  

044 - Efêmero

 

Infinito pensado como perfeito

 Finito negação, carência imperfeita

Matizes crepúsculos em trejeito

Ventos quadrantes se aceita

 

Bóreas, o vento norte, frio cidades

Zéfiro, vento oeste, agradável e suave

Euro, vento leste, senhor tempestades

Noto, vento do sul, árido e insuave

 

Os “olhos-d’água” ou as nascentes

Que deságuam, encontram afluentes

Ou, intermitentes, leitos sem vertentes

 

Floradas multicores brotam e fenecem

Sensações, emoções nascem e perecem

Sentimentos em agonia emudecem

 

 

045 - Águas

 

Fontes jorram mansas e inodoras

Cantam quando ventos se tornam brisas

Sussurrar melodias cristalinas

Hinos homenagem às doces Ondinas

 

Águas mansas contam histórias amor

Ninfas escutam profundos segredos

Sensações, sentimento abrasador

Amantes volúpia e paixão envolvidos

 

Ondinas recebem oferendas, espelhos

Elementais murmuram, sinfonia perfeita

Aromas envolvem prazeres efêmeros

 

Notas musicais recordam pares

Histórias, memória, verbo, lágrimas

Canções dos rios a encantar mares.

 

  

046 - Rastros

 

Sonhos pincelados aquarelas

Navegando mares inconsciente

Sensações aterrorizantes mazelas

Mergulho pesadelo deprimente

 

Fragmentos ciclos fluem na mente

Insegurança entre sagrado e profano

Consciência silêncio dormente

Pensamento ilusório diáfano

 

Sentimentos encadeados, ausente

Busca rota sem norte, enganos

Ponte entre passado e presente

 

Insights, lembranças, registros

Esvoaçam entre véus flutuantes da alma

Destino, sina, lágrimas e rastros.

 

 

 047 - Mares inconsciente

 

Viajantes caminham em caravanas

Corpos envergados, faces sonolentas

Pensamentos entre paixões humanas

Condenados forca, descaso, desditas

 

Andarilhos permeados de ansiedade

Grunhidos tétricos almas perdidas

Sofrimento pungente infelicidade

Encontram óbito a ceifar vidas

 

Uivos, sons de feras malditas

Procissão corpos dilacerados

Acorrentados às tumbas aflitas

 

Silêncio amedronta o presente

Arrastam-se aos fétidos subterrâneos

Mergulham mares inconsciente.

 

  

048 - Sonhos

 

 

Livres, sem amarras na mansidão ventos

Desejos alma afloram incontidos

Onde flutuam sentimentos

Plenitude senda de sonhos

 

Sem temer buscam alternâncias

Na intimidade das existências

Abre-se pórtico realizações plenas

Floradas exalam suaves fragrâncias

 

Águas cristalinas jorram cascatas

Relva atapetada pétalas coloridas

Emoções e quimeras abstratas

 

Alma não pode naufragar relembrança

Para ancorar naus da vitória onírica

Busca porto chamado esperança.

 

 

049 - Cinza

 

Firmamento tingido cinza

Terra salpicada flocos neve

Humor humano é negro, ranzinza

Fauna hiberna, flora fenece breve

 

Inverno conquista a Mãe Natureza

Traz diversidade sentimentos

Sem definição fugazes momentos

Cerceia pensamentos na incerteza

 

Cinza, sem perspectivas de alegrias

Frio gélido perpassa corpo e alma

Memória jorra lembranças sombrias

 

Veste tons acinzentados com zelo

Invernada tem silêncio como cúmplice

Adornado com cristais de gelo.

 

 

 

050 - Substância

 

Lágrimas furtivas lentamente

Desejos que permeiam tua alma

Conflitos entrelaçados mente

Cansaço voz que se acalma

 

Orações, oferendas, crendices

Habilidade em manusear pena

Plenitude instante em orar preces

Coragem, ousadia que impulsiona

 

Tez altiva manobra vida

Couraça defesa cobre a pele

Análise chegada e partida

 

Suspiros profundos essência

Chave que abre sonhos velados

Posso ver, sou tua substância.

 

 

 051 - Caleidoscópio

 

Mistério, fragmentos de vidros partidos

Unidos combinados em semelhanças

Multiplicam-se aglutinados coloridos

Refletindo fugazes lembranças

 

Homem, única e intransferível unidade

Com omissões, sentenças, tormentos

Ranhuras de cicatrizes, saudade

Paisagens invioláveis sentimentos

 

Sensações, se entrelaçam em lamentos

Como caleidoscópio em seu mistério

Flashs da memória, apenas fragmentos

 

Emoções multiplicam-se excitantes

Entre cores que esmaecem e brotam

Desejo de viver e colorir instantes.

 

  

052 - Noites dos tempos

 

Visita costumeira penetra aposento

Esgueira-se entre lençóis de sedas

Majestade solidão cerceamento

Transforma-se em labaredas

 

Angústia se instala emoções

Entre mãos trêmulas, olhar fugidio

Letargia sentidos sem sensações

Palavras sem nexo, o prelúdio

 

Formas dantesca paredes refletem

Enquanto vertem pela face lágrimas

Frustrações presente comprometem

 

Noites dos tempos velha história

Silêncio acoberta a sensibilidade

Rastreada, virada e revirada na memória.

 

 

053 – Sortilégio

 

 

O Homem, a roda da vida em círculos

Às vezes em baixo, outras vezes na altura

Cercados de magia, mistérios e desígnios

Sorte bendita ou apenas cruel aventura.

 

O encantamento que permeia os sonhos

Quando adentramos em sua essência

Onde, o mago que seduz e os seduzidos

Unem-se em sortilégio de transcendência

 

Varinha de condão da Fada em sua mão

Olhar insinuante, sorriso cativante

Caldeirão poético, versos em ebulição

 

Sortilégio é vida, movimento da energia

Sentimentos que oscilam e que se fixam

Alquimia que o poeta processa na poesia.

 

 

054 - Que o tempo espere

 

Desalojei existência adversidades

Vivo o presente, horas lunares ou orvalhos

Caminho devagar sob tempestades

Já esfolei meus pés, duros cascalhos

 

Pressa promove circunstâncias

Ocasionais ou, simplesmente conjunturas

Horas impalpáveis em reminiscências

Insanidade ciclos desventuras

 

Não me chamem quando despertar o dia

Não me esperem no dormitar da noite

Se tempo é invencível, sou rebeldia

 

Que tempo respeite força do hábito

Também sei ser irreverente enigma

Escreverei em poesia, apta ao óbito.

 

.

 055 - Saudade

 

Silhueta emoções, sentimentos

Olhos permeados opacidade

Ausentes, melancólicos, exauridos

Lágrimas pungentes infelicidade

 

Corpo inerte, alquebrado e trôpego

Registros marcantes, inolvidáveis

Perambula atalhos desapego

Horas de vigília, aflitivas e cruéis

 

Alma encarcerada luta aniquilação

Coração pulsa alerta que há vida

Féretro sutil existência da emoção

 

Presente vazio, sem vitórias trajetória

Saudade, lembranças ilusão que finda

Futuro, será personagem na história.

 

  

056 - Manhã de Agosto

 

Natureza em silêncio desperta

Garoa lava manhã agosto

Melodia vento acalanta

 Neve fria umedece rosto

 

Sol, escondido, preguiçoso

Coberto cinza infinito

Sem tempo risonho sorriso

Ficam humores em conflito

 

Manhãs nos tornam diferentes

Às vezes, um martírio de tempo

Às vezes, impotentes, impacientes

 

O vento “vuuuuu” ambiente

Espera campos se cubram de verde

O florir se faça presente.

 

  

057 - Tempo de Primavera

 

Sol abraçar terra raios energia

Céu límpido brancas nuvens

Alvorecer ilumina e traz alegria

Tons, matizes formam paisagens

 

Botões floridos flores germinam

Orvalho umedece açucenas

Pirilampos vegetação iluminam

Aves noturnas fecham as penas

 

Melodia magistral se evidencia

Pássaros despertam e afinam cordas

No gorjear verde sinfonia

 

Natureza renasce em esplendor

Esvoaçar borboletas coloridas

 Afago beija-flor pousar na flor.

 

  

058 – Luxúria

 

 

Corpos suados, entrelaçados entre alvoradas

Mergulhados no mar agitado das carícias

Envolvidos por palavras desenfreadas

A libido entre ondas lascivas e volúpias

 

Entregues por impulso como reféns

Entre desejos e delírios das sensações

Na demência, como vorazes selvagens

Devoram-se no crepitar das emoções

 

Despertam e a euforia desvanece

Logica e razão conclui que foi posse

Fogo se faz cinza, a labaredas fenece

 

Da carne, que desintegrará com o tempo

Pois a essência interna se fez inatingível

Se fez a luxúria de lamento e um passatempo.

 

  

059 - Noites tétricas

 

Noites vazias sem sentimentos

Onde bordo com complacência

Com escritas contraditórias

Lamento e choro dos ventos

 

Noites corrói de forma voraz

Onde fel é tempero da loucura

Tempestade fustiga contumaz

Águas mar, mata escura

 

Sinfonia, orquestra selvagem

Lamúrias, tristeza e solidão

Negros fantasmas em abordagem

 

Três cruzes sal porta, reza forte

Esqueletos bebem taças negras

Saúdam escuridão e morte.

 

  

060 - Infinitude da Lua

 

Lua, infinitude sacra e profana

Homens, mulheres, profundo silêncio

Grande círculo sagrado à Lahanna

Agradece bençãos novo equinócio

 

Grande beleza, mitologia essência

Reveladora e espiritual benevolente

Transcende, manifesta em abrangência

Ciclos do tempo, passado, presente

 

Racional e incorpóreo diálogo enigmas

Visões múltiplos universos

Sementes de novos paradigmas

 

Diversidade misticismo, sem dúvida

Sabedoria, deuses e elementais

Revelam renascer vida.

 

 

061 - Eternidade

 

Trago desejo reprimido

Soprar aos ventos grito de liberdade

Não caminhar pedras sangrando

Sobreviver teias falsa verdade

 

Peregrinos vestidos ou desnudos

Andam a esmo foge escuridão

Entre tantos, moribundos, feridos

Tétrica e fétida estação da ilusão

 

Longe o rio, barca, barqueiro

Águas mansas e límpidas, a passagem

Esperança vislumbrar nova paisagem

 

Em meio escuridão surge claridade

 Portal luminescente eternidade

Diáspora almas adentram à felicidade.

 

 

062 - Sonetar

 

Energia envolvente, fascinante

Discorre sonhos e fantasias

Grafia essência insinuante

Impulso secreto nostalgias

 

Cada linha emoção semblante

Cada rima o crescente lamento

Soma vogais, consoantes, oscilante

Final versos, poeta em pranto

 

Teu enredo sutil se emaranha

Tuas rimas vestem sentimentos

Disfarça essência da artimanha

 

Mostras que homem é feito de poesias

E que poesia e sonho também é vida

Sonetar, néctar pobres mortais.

 

 

063 - Simplesmente Mulher

 

Existência, florescer

Esplendor, paixão

Esperança, acrescer

Fascinação, alucinação

 

Inspiração, excelência

Conquista, fluidez

Sensualidade, astúcia

Paisagem, nudez

 

Audácia, liberdade

Utopia, grande amor

Efêmera, sua verdade

 

Anverso, imprevisíveis

Simplesmente Mulher

Enigmáticas, intransponíveis.

 

 

 064 - Tem dias

 

Tem dias, vazio se tornam imenso

Turbilhão lembranças, pensamento

Memória algoz sentimentos

Lâminas frias, domínio intenso

 

Nostalgia, acompanhada saudade

Verbo afiado fere alma e ego

Perco-me e mergulho ansiedade

Busco quimeras no aconchego

 

Algozes, soma profundas marcas

Corpo prisioneiro funesta solidão

Cicatrizes desilusões amargas

 

Alma, envolvida por enigmas

Mente, sentimentos abstraio

Busca, liberdade nas conquistas.

 

 

 

 065 - Feitiços

 

 

Sussurros, pronúncia insuficiente

Mãos trêmulas buscam prazer tato

Olhos embevecidos no ausente

Odores inebriantes mascaram olfato

 

Desejo carne desafio premente

Molda imagens névoa ausência

Desenha inefável ideia semblante

Retorna fato como consciência

 

Fontes, consumo desvario iminente

Feitiços, germinados no amor, magia

Labirintos, percorridos inconsciente

 

Feitiços libera corpo, alma permeada

Sentir imensurável poder da mente

Se auto enfeitiçar e viver cerceada.

 

 

066 - Noites agourentas

 

Natureza veste cinzento

Dias tristes, melancólicos

Tênues esperanças acalento

Entre prenúncios maquiavélicos

 

Fantasmas percorrem a mente

Acentuando solidão e perdas

Silêncio companhia do presente

Lembranças fugazes elencadas

 

Vendavais assobiam assustadores

Ecos retornam e invadem a natureza

Acordam os animais espectadores

 

Até as marés com vagas violentas

Invadem terra, a natureza humana

Passamento nas madrugadas agourentas.

 

  

067 - Travessia da Madrugada

 

Caminho, permeado de densas brumas

Lago fétido, barco, remo para açoite

Desejo insensato, quimeras efêmeras

Nuances, ofuscam a tênue luz da noite

 

Cronos, Deus do Tempo e contextos

Papel, rabiscado de emoções, pensamentos

Linhas, indecifráveis, versos em documentos

Legado da existência e sentimentos

 

Chama do candeeiro, aos poucos esmaece

Sentimentos, apenas resíduos em fragmentos

Lágrimas, o rosto em desalinho umedece

 

Travessia, um portal entre vida e morte

Nua realidade, transitar no algoz tempo

Madrugada, a companhia é passaporte.

 

 

 

068 – Macrocosmo

 

Abundante poeira cósmica, a abóboda celestial

Sol preso com fios de ouro no firmamento

Coronário ilumina o círculo astral

Vendaval em fúria produz areamento

 

Mundos habitados, estranhos, desconhecidos

Ilhas de luz, chocam-se inúmeras estrelas

Seres alados, elementais ou anjos misteriosos

Cores suaves pincelam amanhecer em aquarelas

 

Bóreas anuncia a fugaz chegada das auroras

Boreal ilumina o Norte, austral enfeita o Sul

Deusa Aurora renova-se em nuances delicadas

 

Escultura de alabastro compõe a apoteose

Sublime espetáculo de cores simultâneas

No Macrocosmo se entrelaçam em metamorfose.

 

  

069 - Credos

 

Inúmeros, de diversas fontes e dogmas

Para uns, credo é o exercício da fé

Para outros, soltar-se das algemas

Alguns acreditam no palpável, o que vê

 

Crer em Deus Todo Poderoso, o Criador

Deve ser o alicerce para todas as crenças

Pois a espiritualidade é um apaziguador

Para equilibrar agruras e ações das almas

 

Não é um rótulo ou objeto que te fará crente

Nem o estapafúrdio é que te fará Mestre

Pois a fé, em silêncio te fará benevolente

 

A humanidade se depara com profetas falsos

Que se enaltecem a procura de novos adeptos

Mas só Deus, o UNO amou seus rebanhos.

 

 

070 - Anjos da Noite

 

Temeridade se instala na obscuridade

Névoas, vapores pestilentos, cinzentos

Bramido pássaros noturnos, bestialidade

Tempestade anuncia, final dos tempos

 

Ventos fustigam, destruição, sinistros

Portais abrem, rangem portas, gemidos

Abrem sulcos, multiplicam-se precipícios

Séquitos Anjos da Noite, surgem sombrios

 

Nas mãos, pergaminho escrito em hieróglifos

O semear nocivo para os insanos incultos

Homens que perfazem fileira nos caminhos

 

Mente confusa e engenhosa destila veneno

De espíritos que só a vingança sacia a sede

Ardem chamas, enquanto óbito faz aceno.

 

 

 071 - O Velejar da Vida

 

O homem, barco que veleja no planeta

No porão, carrega desejos confinados

No convés, sentimentos, ampulheta

Na escotilha, observa mar em devaneios

 

A travessia, inquietude dos andantes

Por intempéries que natureza descortina

Lufadas constantes de emoções conflitantes

Maremotos, inundam luz lamparina

 

Equilibra-se entre ondas mansas da ilusão

Usa remos da esperança para realizações

Sem bússola, sem norte, profunda solidão

 

O barco veleja, o homem cansado adormece

Rompem-se grilhões do inexorável inconsciente

Tempo passa, barco atraca, na força da prece.

 

 

 072 - Doce Magia

 

Faz-se na fantasia noite, no sossego

Cumplicidade ornamentada por fantasias

Dois, em jogo instigante de chamego

Uma cama forrada de pétalas macias

 

Sonho onde permitimos a metamorfose

Rompemos o casulo e como borboleta

Alçamos o voo além da terra, à apoteose

Em busca da outra metade na ampulheta

 

Alquimia da fantasia nos incita divagar

Sobre origem dos néctares escondidos

Viciante e permissivo prazer abrasar

 

Um mergulho no infinito e sua imensidão

Alcançamos, astros, Deusa Lua e estrelas

Mais uma vez, a quimera intensa da ilusão.

 

 

 073 - Ciclos da Vida

 

A vida, brota, germina, se faz existência

Família e amigos ofertam boas vindas reunidos

Desejando sorte benfazeja, benevolência

Que protegido, cresça entre abraços e beijos

 

A infância e juventude de mãos entrelaçadas

Mas a vida só inicia com construção definida

Marcadas por erros, estigmas sociais e perdas

Amadurecimento alicerça rota estabelecida

 

Muitas vezes, sem perceber, a maturidade

Apresenta-se, não pede licença e se instala

Desnuda um percurso de verdades e liberdade

 

Desafia nossa sabedoria, frente os pesares

Abre nossas bagagens e mostra a herança

Ciclos, semeadura e colheita, nos andares.

 

 

 074 - Microcosmo

 

O homem, um pequeno universo

Habitante Planeta, um passageiro

Sem conhecer essência de seu reverso

Nas tentações ruma ao despenhadeiro

 

Uma imagem reduzida do macrocosmo

Moldado com emoções e sentimentos

Permeado com atributos do Cosmo

Pois a anatomia possui quatro elementos

 

Instável, não mede atos e consequências

Desconhece a direção e missão atribuída

Impelido, nas incertezas das contingências

 

Sua visão, não vê as extremidades existência

Desconhece o início, meio e fim do Universo

A metamorfose produz, abastança ou carência.

 

 

 075 - Oscilações

 

Inquietações que perseguem dionoturna

Pois se a noite é vazia, intensa e espertina

O renascer do dia torna-se eterna rotina

Pensamentos exauridos sob luz lamparina

 

A vida, um casulo à espera das metamorfoses

Com intempéries na natureza avassaladora

O senhor do tempo administra neuroses

Enquanto a derradeira quimera desarvora

 

Oscilações entre ruídos e enigmas

Sussurros com eco do indelével silêncio

Mistérios e segredos que habitam as almas

 

São sensações e emoções que se entrelaçam

Como alerta de sentimentos ainda latentes

Que desejam semelhantes que se abraçam.

 

  

076 - Juízo Final

 

Tempestade em fúria, feroz ventania

Almas, enfileiradas oscilam, em apatia

Inaudível, talvez uma prece, em agonia

Lamentam sina, desdita em apologia

 

Sombras fantasmagóricas, nevoeiros

Desfilam valas de águas escuras e fétidas

Que sulcaram os desabitados atoleiros

Arrastando grilhões em gargalhadas 

 

Outras, contam contas dos rosários brancos

Que contrastam com parcas vestes negras

Orações por misericórdia aos santos

 

Assim se postam em vigília e aguardam sinal

Quando Anjos de Deus tocarão trombetas

O Livro da Vida será aberto, o Juízo Final.

 

 

077 - Liberdade da Alma

 

Nascimento, apogeu e morte, em dia cinzento

Na terra úmida e lúgubre um corpo é depositado

Seu fluído vital, processo do desprendimento

A escravidão dos vulneráveis sentidos inumado

 

Sem grilhões das ideias pré-estabelecidas

Sob o governo déspota das concepções humanas

Liberdade antes inalcançável são delineadas

Com testemunho de esperanças pequenas

 

Alma, livre rumo ao infinito desconhecido

 Como pássaro flamejante em oscilantes labaredas

Ascendendo à essência plena do amor represado

 

Divisa o distante horizonte entre estrelas

Flutua em liberdade na busca do amanhecer

Longínquo, entre energias paralelas.

 

  

078 - Refrigério

 

Uma noite nefasta, escura, de fétidos cheiros

Som ao longe, tambores, marcando lamento

Anunciando o retorno dos bravos guerreiros

Cavalgando velozes pelo tempo como vento

 

Gritos assustadores, harpias aves de rapina

Trovoadas e relâmpagos mostram a descida

Espada de prata rasga céu entre a neblina

Manto estrelas fulgura e ilumina a vida

 

Luz incide sobre soldados camuflados

Bandeiras tremulam na brisa noturna

Homens deixam face descoberta, enfileirados

 

Corpos decepados, ensanguentados, enrolados

Para pompas, banquete das almas, refrigério

E retornam heróis de guerras ignorados.

 

 

 079 - Prisão da Vida

 

Preconceitos que cerceiam o homem

Companhia da covardia dia a dia

Que impede de se reconhecer refém

E ser livre para realizações e alegria

 

Múltiplos Egos nocivos aprisionam

A divindade cristalina de cada homem

Instalados no inconsciente que ocultam

Trajetórias de sombras que consomem

 

Sensações em fragmentos arrastados

Grilhões invisíveis, emoções aprisionadas

Sentimentos decepados, por óbito enterrados

 

Até que um dia o despertar se evidencia

É passado a limpo, passado e presente

Sem projetos, o futuro é ausência.

 

 

080 – Carrilhões da agonia

 

Quem sabe um pesadelo ou viagem?

Escalada em escarpas montanhosas

Silhuetas se movem por trilhas aquém

Homem ou Almas em fel de lágrimas

 

Não lembram a origem, ancestralidade

Sem saber o que reserva o caminho

O norte definido ou ambiguidade

Sorte ou sina, pedras em desalinho

 

O pêndulo, o tempo, a ampulheta

Carrilhões, único som que sinaliza

Uma vida, um óbito, uma estatueta

 

Eco atordoa mente com engano

Corpo cai prostrado e fétido

Alma desiste, desaba no desengano.